Consulta de novo o horizonte e o ecrã do telemóvel, mas não há sinal dele, nenhuma das suas manifestações possíveis tem lugar. Apenas a passagem do tempo, assinalada com quatro dígitos que há muito deixaram de ser 14:00.
Então começa a descer o caminho pelo outro lado e os seus passos vão acelerando. Como uma bola que, depois de quase se deter ao chegar ao cume, ganhasse de novo velocidade na descida, a gravidade vencendo o atrito. Em poucos minutos adopta um passo furioso, como o daquelas outras raparigas que vão ao parque para caminhar, gastar calorias em marchas vigorosas, de fato de treino justo, garrafa de água na mão e um tagarelar ofegante. Ao fim de um quarto de hora de caminhada, descobrindo centenas de metros depois prazeres insuspeitados no esforço físico e remoendo o despeito amoroso, consegue-se imaginar a fazer aquilo para o resto dos seus dias: tornar-se viciada em caminhadas e presa a um encontro que não ocorreu. Não é preciso muito: umas sapatilhas com bom piso e um espírito romântico obsessivo, também ele obediente, na sua persistência, à primeira Lei de Newton.
Muito bom este texto. Gostei.
ResponderEliminarObrigado.
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