O cliché cumpre ainda a sua função em alguma prosa com vago desempenho queirosiano. É uma muleta útil, quando a prosa se debruça mais sobre si própria do que sobre o assunto de que trata. Repare-se como no mesmo artigo, dedicado a Duarte Lima, Vasco Pulido Valente refere que «um pobre de Bragança não podia transitar suavemente para uma companhia, um banco ou um escritório de advogados». A realidade há décadas desmente a afirmação (entre abundantes exemplos, só nos governos mais recentes, lembremo-nos desse outro nobre brigantino, Armando Vara), mas que importa isso se o efeito da frase é sonoro, requintado? Como a propósito de Martin Amis defendeu Rogério Casanova, não é o que o autor diz que interessa, mas como diz. Se por vezes o escriba parece perder discernimento, não devemos censura-lo — mas admirar-lhe a frase. Que interessa a realidade para um escriba superior?
Claro que muitos transmontanos concordam com Vasco Pulido Valente. Também eles, coitados, lamentam os quinhentos quilómetros que os separam do Gambrinus. Ou quiçá do Colombo e do Estádio da Luz. Na verdade, talvez só os americanos discordem da ideia de Bragança ser o fim do mundo — por lhes parecer que o fim do mundo há-de ter pelo menos o tamanho de toda a província de Espanha que Portugal é.
Claro que muitos transmontanos concordam com Vasco Pulido Valente. Também eles, coitados, lamentam os quinhentos quilómetros que os separam do Gambrinus. Ou quiçá do Colombo e do Estádio da Luz. Na verdade, talvez só os americanos discordem da ideia de Bragança ser o fim do mundo — por lhes parecer que o fim do mundo há-de ter pelo menos o tamanho de toda a província de Espanha que Portugal é.
Ler também: «No fim do mundo», no Tempo Contado.
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