Há meia dúzia de meses, arranjou companhia. Foi agradável vê-lo partilhar o horizonte com alguém da sua espécie, o mesmo ar négligé, a mesma forma original de combinar peças de roupa, a mesma barriguita de palha. Talvez o novo indivíduo seja uma senhora-espantalho, e, nesse caso, podemos imaginá-los por vezes a fazerem gazeta à função protectora e a olharem o pôr-do-sol nos montes (ou no mar, a imaginação não tem limites). Alguém deveria subir ali e colocar o braço de um sobre o ombro de outro.
Na verdade, talvez o tenham feito já, num fim de tarde auspicioso ou numa noite de lua cheia: na passada quinta-feira foi detectado um terceiro espantalho no mesmo telhado. A condução atenta não permitiu discernir pormenores, mas não custa aventar que se trata de descendência; o período de gestação de um espantalhinho não tem necessariamente de ser de nove meses.
Em pouco tempo, a curva da A24 ganhou uma tríade protectora, como dita o Livro. Passa-se ali e adquire-se um sorriso instantâneo — o sorriso que nos tinha sido tirado ao cruzar o pórtico das portagens, instituídas na mesma quinta-feira.
Viajar no interior do país pode ter ficado mais caro, mas há felizmente alguém que zela pelo bom humor dos viajantes, se o Governo não tem vocação para isso.
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