A Zona de Interesse, de Martin Amis, é um livro belíssimo. É talvez um dos melhores que li de Amis e no entanto é também aquele onde o escritor se afasta mais do seu estilo pessoal, onde abdica mais de ter um estilo. Isto dito, não se consegue esquecer que é uma obra de arte feita a partir do pior dos episódios da história da humanidade — e isso, que tem em si algo de Amis way, não representa qualquer mal. Alguns editores recusaram-se a publicar o livro. Ou são patetas ou não o leram. Ou ambas as condições são verdadeiras. Em momento nenhum do romance o leitor consegue ou pode sentir-se autorizado a esquecer o que foi o Holocausto, a relativizá-lo, banalizá-lo, achá-lo coisa de um passado pitoresco a preto e branco como as histórias de piratas, onde vida e morte, crimes e violações são décor. Não. Sai-se do livro como se sai dos livros de História: horrorizado com a Alemanha nazi. Sim, num momento ou noutro inquietamo-nos por estarmos a ter prazer estético com uma história de amor num campo de concentração, uma história de amor que se passa na zona dos carcereiros e dos carrascos. Mas isso não faz de nós (nem do autor) aberrações morais. Apenas mostra que temos emoções e predisposição para a beleza — e que tê-las não chega para fazer de nós boas pessoas, estão ali os nazis para o evidenciar. (Na verdade, talvez o livro até tenha outras sugestões, mas este aspecto não o posso explorar sem cair em revelações sobre o enredo.)
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
A Zona de Interesse
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